quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Reflexões sobre o estilo Gyaru na atualidade



*Este é um artigo de opinião, portanto nele estão contidas minhas impressões, fiquem a vontade para discordar ou 
concordar para que possamos gerar uma discussão sobre o assunto e uma reflexão.

 Gyaru: Antigamente x Atualmente

Se você acompanha o site Galaxy109 deve ter se inteirado da atual situação dos Gyaru-o nesta matéria: “O fim dos Gyaru-o?”. Isto me fez partir para uma reflexão sobre o estilo Gyaru, como andamos? Gyaru passou por altos e baixos, tivemos praticamente uma extinção do estilo Mamba e Ganguro e uma “evolução” do estilo. Não muito distante, uma das maiores revistas gyaru saiu de circulação, a PopSister, será que o estilo também está ameaçado? Não sei, provavelmente não, outras revistas também haviam sido cancelas antes (como pode verificar aqui), mas o certo é que o gyaru está passando novamente por uma mudança, e quais seriam elas?

Gyaru já esteve muito mais ligado ao estilo de vida. “Gals have for fun” era o lema de diversas garotas que bronzeavam a pele e iam a Shibuya encontrar seus galcirs* para dançar Para-ParaAs batidas do eurobit estavam incluídas na cultura gyaru. A maioria das meninas que não queriam se graduar em gyaru acabava indo para empregos em salões de beleza ou modelagem, pois o estilo era a vida delas. Outras mais populares fundaram grifes de roupas, maquiagem e/ou cosméticos.
 
 Angeleek era um dos maiores e mais influenciadores galcirs antigamente

 A revista PopSister que contava com modelos como Tsubasa Masuwaka e Nana Suzuki foi cancelada

Mas o estilo mudou e com eles os costumes, estilos mais extremos como Agejo e B-Gal (alguns afirmam que estas não se consideram gyarus, mas um estilo a parte *carece de fontes) se afastaram, sendo praticamente um subcultura a parte das gyarus. Foi permitida a pele clara, os traços dos olhos ficaram mais finos, a nail art em boa parte se perdeu, fora tantas outras alterações e coisas que deixaram de ser obrigatórias. Então entraram em cena os estilos mais casuais. A Ageha e EGG talvez sejam as únicas a ainda manter um pé nos estilos mais extremistas (Porém, até mesmo a Egg não é a mesma). Mas e a cultura? A diversão? Eu particularmente acredito que o estilo passou para um lado muito mais consumista e de mercado do que um estilo de vida, se antes para ser gyaru tínhamos que entrar em um circle, até mesmo aprender a dançar para-para e sair com as amigas sem se importar a hora de voltar para casa, agora gyaru se fincou como uma moda, com transições e sem amarras de personalidade. Gyaru deixou de ser um estilo de se vivenciar para se transformar em um estilo apenas um estilo de vestir. Veja bem, não quero dizer com isto que usar gyaru não tenha um reflexo no nosso modo de agir, apenas que aquele comportamento esperado não é mais obrigatório. O artigo traduzido do Gyarupoyo traz exatamente este tipo de questão, leia aqui.  

 EGG da época da Buriteri (1999) e EGG de novembro de 2013 - Nem parece a mesma revista não é mesmo?

Se observarmos as revistas gyarus mais recentemente, constataremos uma cada vez maior de inserção de outros estilos dentro do gyaru. Como falei no meu post passado, há uma inserção maior da moda coreana, por exemplo, o puffy eyes. E claro, uma grande absorção do estilo americano, assim como as californianas influenciaram bastante o estilo no início, hoje o american street fashion continua a inspirar o gyaru, assim como toda moda mundial. Essa incorporação de estilos tornou o gyaru mais rico e complexo, mas também contribuiu para certa perda de identidade.

Identidade esta que o galcir Black Diamond, com suas Kuro Gyarus tentam reaver. A idéia da pele bronzeada, se apoiar numa grife (a D.I.A.), num estilo mais específico (o Rokku) e ter apoio de revistas (a EGG e Soul Sister), vem ajudando a esta subcultura ganhar novamente força. 

 O Galcir Black Diamond conta com membros não apenas japoneses, mas de 20 países diferentes

 A revista Soul Sister traz um gyaru muito diferente das revistas atuais

O grande problema que vejo no estilo gyaru atual é que ele vem se tornando diluído, o que dificulta uma rápida percepção do “o que é gyaru?”. Revistas que antes tinham grande quantidade de gyarus como modelos, como a Vivi e Blenda, se tornam tão casuais que por muitas já estão sendo desconsideradas como exemplos do estilo. É claro que isto não é de todo um problema, afinal, quanto mais casual mais fácil de ser adaptado e mais fácil de ser encontrado, porém, como um estilo não tão regrado quantos os de Harajuku, a coordenação correta é mais difícil.

Um ponto muito interessante na entrevista do Uetake é quando ele aponta que os jovens deixaram-se de se reunir em Shibuya e ela perdeu seu atrativo, que era justamente aqueles jovens reunidos. E ele ainda aponta que as relações virtuais ajudaram para que isso acontecesse. Isto me fez lembrar no início da divulgação do Gyaru no Brasil, a Caramel, apontava que gyaru não era “estilo de internet” era para se sair, usar na rua, não para fotos e ser elogiada por pessoas virtuais. Temo que estejamos perdendo, ou se não já perdemos, essa conscientização sobre o estilo.

Para mim gyaru não vai acabar, não ainda, mas vai mudar, novamente. Os estilos mais extremos vão se afastar ainda mais, quase se tornando uma cultura a parte, e o restante irão se a readaptar as modas atuais, a ponto de que algumas não as considerem mais como Gyaru de fato. Apesar de que isto não é bem uma previsão, é quase uma constatação como demonstrou a Lara no artigo “Vida de Gaijin”. Espero que nós, estrangeiras, Gaijins, ajudem a manter o estilo vivo.

E para você, quais são suas opiniões? Essas mudanças a agradam? Tem algo que discorde? Não deixe de comentar. 

Leia também o artigo do Universal-Doll (em inglês).


*Galcir ou Galcircle: Ao pé da letra: Círculo Gyaru e se refere a grupos fechados de gyarus, um dos mais famosos galcirs foi o Angeleek. Atualmente o maior e mais famoso é o Black Diamond.
 

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